Dia 8 de julho é o dia do panificador, essa profissão que percorre por toda história da humanidade foi e ainda é de grande importância sociocultural no mundo. A história do pão começa no Egito antigo há mais de 6 mil anos atrás, onde nesse momento foi descoberto o processo de fermentação e a partir daqui começa o aprimoramento das técnicas de panificação no mundo. Os pães acompanham a história da humanidade desde então, e levam consigo a representação de saúde, poder e vitalidade.
Por causa desse dia que lembramos da profissão responsável pela produção de pães, doces, bolos, salgados, biscoitos entre diversos outros alimentos, nós decidimos abordar neste texto a questão da aprovação, problemática e as consequências da produção e consumo do trigo transgênico, em específico do trigo HB4, que foi aprovado a comercialização no Brasil em novembro de 2021. Esta variedade de trigo transgênico existe desde 2000 e é uma patente desenvolvida pela Bayer-Monsanto, empresa conhecida por ser o maior fornecedor do agrotóxico glifosato e de sementes transgênicas.
A variedade desse trigo existe desde do começo dos anos 2000, porém sua plantação e consumo nunca tinha sido aceita por nenhum país no mundo, devido à falta de estudos em torno desse transgênico. A Argentina foi a primeira a permitir a plantação e a venda dessa variedade de trigo, porém com a condição de que o Brasil aprovasse a importação, pois nós somos os maiores consumidores do trigo da Argentina. Com a autorização do consumo do trigo HB4 no Brasil, foi demonstrado que a decisão foi por motivos comerciais e não em prol da saúde e do meio ambiente. Vale ressaltar também que essa decisão de mudar toda a base da alimentação de grande parte da população brasileira foi da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), onde sua comissão é formada por 27 doutores, sendo a maioria deles ligados ao desenvolvimento de biotecnologia.
O trigo transgênico HB4 tem duas características principais: a tolerância à seca e resistência ao agrotóxico glufosinato de amônio, que é um herbicida ainda mais tóxico que glifosato do qual foi classificado com potencial cancerígeno pela OMS. A utilização desse agrotóxico influencia diretamente a saúde da população brasileira, pois sabemos que ao começar a utilizá-lo, será encontrado resquícios do herbicida em qualquer alimento derivado do trigo. Existe a promessa de maior produtividade das monoculturas com a implementação desta semente transgênica, porém isso acarreta consequentemente o aumento do uso do herbicida extremamente tóxico que é o glufosinato de amônio, ou seja, nós consumimos produtos que estão contaminados com esse veneno, há a contaminação do solo e da água, contaminação da variedade do trigo por toda a cadeia alimentar, além do contínuo incentivo que isso dá para o monopólio dos monocultores.
No Brasil, a permissão de consumo do trigo HB4 precede a utilização para plantio, pois ao já estar implementado o consumo do mesmo pelos brasileiros é ainda mais fácil produzir o trigo e lucrar com isso do que o importar. Isto trará inúmeras consequências para o meio ambiente, devido a tolerância à seca que permite a plantação do trigo no cerrado brasileiro, bioma este muito afetado pela agropecuária, ou seja, pode haver ainda mais a perda de biodiversidade deste bioma. Lembrando também que a permissão para plantio beneficiará somente os donos de monoculturas, concentrando a terra e o poder na mão dos mesmos, enquanto as consequências dessa produção recaem sob a população. Além disso, no Brasil é obrigatório a rotulagem OGM (organismos geneticamente modificados), isso incomoda o agronegócio a tal ponto que tentam incessantemente derrubar a rotulagem por meios judiciais, porém há agentes como o IDEC (Instituto Brasileiro em Defesa do Consumidor) que lutam para garantirem o direito do brasileiro de saber sobre o uso de transgênicos na comida.
Sabemos que o transgênico e os agrotóxicos não são a solução para fim da fome, pois o problema não é a produção em grande escala, mas sim a falta de distribuição dos alimentos produzidos, nós também devemos estar cientes que esta necessidade de produção em grande escala está totalmente ligada aos commodities que a comida se tornou e não a necessidade de alimentar a população. Em vista disso, precisamos ficar mais atentos às embalagens, nos informar por fontes confiáveis, criticarmos e pensarmos sobre o atual sistema alimentar e eleger representantes com ideais voltados para a população.
REFERÊNCIAS
#84 – Trigo transgênico: no Brasil, tem!. Entrevistado: Rafael Rioja Arantes. Entrevistadora: Ailin Aleixo. [S. l.]: Vai se Food, 24 nov. de 2021. Podcast. Disponível em: <https://podtail.com/podcast/vai-se-food/-84-trigo-transgenico-no-brasil-tem/>. Acesso em: 25 de jun. de 2022.
13 motivos para dizer NÃO ao trigo HB4 geneticamente modificado. MST, 2020. Disponível em: <https://mst.org.br/2020/10/23/13-motivos-para-dizer-nao-ao-trigo-hb4-geneticamente-modificado/>. Acesso em: 24 de jun. de 2022.
Trigo transgênico no nosso pão não!. IDEC, 2021. Disponível em: <https://idec.org.br/campanha/trigo-transgenico-nao>. Acesso em: 24 de jun. de 2022.
PAIXÃO, Fernanda. Trigo transgênico aprovado no Brasil é questionado pela Justiça argentina. Brasil de fato, 2021. Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2021/11/26/trigo-transgenico-aprovado-no-brasil-equestionado-pela-justica-argentina>. Acesso em: 24 de jun. de 2022. Conheça mais sobre a cultura do trigo e a aprovação do trigo transgênico no Brasil.
Croplife brasil, 2022. Disponível em: <https://croplifebrasil.org/noticias/trigo-transgenico-brasileiro/#:~:text=Libera%C3%A7%C3%A3o%20do%20trigo%20transg%C3%AAnico%20no,e%20produtos%20derivados%20ou%20processados.>. Acesso em: 24 de jun. de 2022.