Por Anna Luiza Santiago Garrido

Alimentos orgânicos, frequentemente confundidos por agroecológicos, são caracterizados por serem cultivados sem uso de agrotóxicos sintéticos, transgênicos ou fertilizantes químicos, sendo ideais na preservação da saúde do meio ambiente, do consumidor, e do próprio agricultor. Já os alimentos agroecológicos, de forma simplificada, além de possuírem maior respaldo por movimentos sociais, como MST, são fruto de outra abordagem de agricultura, onde a natureza, os agricultores e todas as inter-relações do agroecossistema são potencializadas, visando uma produção de qualidade, economicamente viável e socialmente justa. Uma forma simples de compreender a diferença é que para a agricultura orgânica é possível a existência de um latifúndio produtor exclusivamente da monocultura de morangos orgânicos, por exemplo, enquanto num sistema agroecológico tanto a questão da terra, da diversidade e das pessoas que trabalham nela não permite esse tipo de relação.

Devido a complexidade em torno da produção, alimentos orgânicos tornam-se mais caros. Consequentemente, seu consumo evidencia uma prática elitizada dentro do cenário socioeconômico brasileiro. Enquanto as classes mais altas podem desfrutar de alimentos “limpos”, as classes com menor poder de consumo têm de se contentar, por vezes, com um ou mais dos 400 agrotóxicos diferentes registrados pelo Ministério da Agricultura.

De acordo com a revista Galileu, em 2019, o Brasil foi o país que mais gastou com agrotóxicos no mundo, ultrapassando Estados Unidos e China. Analisando esse dado junto ao valor do Coeficiente Gini* do mesmo ano (0,543), e ao IDH** de 0,761, de nota-se uma considerável desigualdade social, atrelada, inevitavelmente, ao descaso quanto à saúde da população menos favorecida.

Nesse cenário enfermo, para dizer o mínimo, as feiras orgânicas e agroecológicas organizadas em algumas zonas periféricas, como na Baixada Fluminense, surgem como alternativa soberana no que tange a alimentação. Organizações como a AS-PTA as quais fomentam a agricultura familiar e os pequenos produtores, sem fins lucrativos, tornam-se imprescindíveis para disseminação da alimentação saudável para todos.

 * Instrumento de medição da desigualdade de um país, onde “zero” é equivalente à equidade total, e “um” à desigualdade total.

** O IDH, ou Índice de Desenvolvimento Humano, é uma ferramenta composta por três indicadores principais que medem a educação, a expectativa de vida ao nascer, e a renda da população. Os valores do índice vão de 0 a 1, sendo 1 o maior o desenvolvimento humano, e 0 o menor.

Referências:

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2019/06/afinal-o-brasil-e-o-maior-consumidor-de-agrotoxico-do-mundo.html#:~:text=Estados%20Unidos%2C%20China%2C%20Jap%C3%A3o%20e,%2C%20respectivamente%2C%20nas%20posi%C3%A7%C3%B5es%20seguintes.&text=O%20segundo%20ranking%20divide%20os,com%20US%24%20137%20por%20hectare.

https://www.brasildefato.com.br/2018/05/03/alimento-organico-ou-agroecologico-entenda-a-diferenca-entre-os-modos-de-producao

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/29431-sintese-de-indicadores-sociais-em-2019-proporcao-de-pobres-cai-para-24-7-e-extrema-pobreza-se-mantem-em-6-5-da-populacao

http://planetaorganico.com.br/site/index.php/lista-da-anvisa-dos-alimentos-com-maior-nivel-de-contaminacao/

https://www.raizs.com.br/pimentao-verde-organico/p

https://www.dicionariofinanceiro.com/idh/

https://www.dicionariofinanceiro.com/indice-de-gini/