Cestas Agroecológicas em Condomínios

Cestas Agroecológicas em Condomínios

No final do ano de 2019, o mundo foi surpreendido com o surgimento de um vírus desconhecido na China. Alguns meses depois, o chamado coronavírus se espalhou pelo mundo, chegando oficialmente ao Brasil no final de fevereiro de 2020. Com o avanço da doença no país, foi decretado quarentena em diversos estados brasileiros, inclusive no Rio de Janeiro. Durante o isolamento social, somente serviços essenciais poderiam abrir, tais como farmácias, hospitais e supermercados. Rapidamente, todos tiveram que se adaptar à nova realidade, aprendendo a se prevenir e a lidar com o coronavírus – COVID-19, gerando mudanças nas relações tanto sociais, quanto de trabalho e também de consumo da população em geral.

Durante a quarentena no Rio, feiras de rua foram proibidas pela prefeitura através do decreto Rio nº 47381 de 22 de abril de 2020 (Rio de Janeiro (RJ), 2020), escolas e universidades tiveram que suspender suas atividades presenciais como medida de contenção à disseminação do vírus Sars-CoV-2. Dentre elas a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na qual todas às quintas-feiras aconteciam a Feira Agroecológica da UFRJ, em diferentes pontos do campus do Fundão. Dessa forma, os produtores que fazem parte da feira perderam sua principal fonte de renda, que vinha tanto da feira da UFRJ, quanto de outras que aconteciam durante a semana em alguns pontos do Rio de Janeiro.

Apesar do cenário causado pela pandemia ser relativamente novo, pequenos produtores sempre enfrentaram dificuldade em escoar sua produção de maneira acessível, recebendo um valor justo pelos seus produtos. De acordo com Bursztyn, Martins e Podesta (2019), alguns empecilhos básicos seriam a falta de infraestrutura para o acesso às propriedades rurais e o deslocamento de produtos, visto que muitos agricultores dependem de carona ou de transporte público precário. Já os obstáculos mais difíceis a serem superados seriam o diminuto interesse das gerações mais jovens em permanecer no campo, assim como o desinteresse e a falta de suporte das autoridades públicas em fornecer alvarás e investir em obras que garantiriam um espaço mais adequado para a fabricação dos itens processados.

Se por um lado ocorreu a queda nas vendas dos pequenos produtores da feira, houve também um aumento significativo na busca, por parte dos consumidores, por alimentos mais saudáveis, com destaque para os orgânicos e agroecológicos (STEELE et al, 2020; RODRIGUES, 2020a). O avanço da pandemia fez com que muitas pessoas passassem a se preocupar mais com a manutenção da saúde e aumento da imunidade.

Nessa perspectiva, a proposta de aproximar as duas pontas da cadeia produtiva, a saber os produtores e consumidores, pode apresentar resultados positivos para todos os envolvidos. No entanto, esse movimento não se dá de forma espontânea, deve ser estimulado de modo que haja a compreensão das dificuldades e necessidades de ambas as partes. As diferenças culturais, por exemplo, sobre o uso de determinados alimentos, sobre o entendimento da sazonalidade na produção, sobre a realidade da vida no campo e os desafios enfrentados para a comercialização, expõem a necessidade de uma mediação entre esses dois universos. 

Tendo em vista esse cenário, surgiu a oportunidade de pôr em prática a ideia do Projeto de Cestas Agroecológicas em Condomínios. Esse projeto visa atender a demanda tanto dos produtores, na perspectiva de gerar renda e escoar a produção, quanto dos consumidores, de ter acesso a alimentos mais frescos, saudáveis, sustentáveis e de qualidade.

A ideia do projeto é atuar próxima a um modelo de CSA, no qual um grupo de consumidores, todos de um mesmo prédio (o que funcionaria como o núcleo de uma CSA) realiza compras quinzenais dos produtos ofertados pelos agricultores agroecológicos e orgânicos participantes da Feira da UFRJ e sua rede de parceiros. A formação dessa rede proporciona uma variedade maior de produtos ofertados, isso faz com que mais consumidores se interessem pelas cestas e também possibilita o alcance de um maior número de produtores igualmente afetados pela crise da COVID-19.

O objetivo principal do Projeto das Cestas é promover a aproximação entre produtores e consumidores, de modo que o agricultor consiga fornecer seus produtos de maneira satisfatória, tanto para ele quanto para quem está comprando, conseguindo, assim, escoar sua produção de forma mais eficiente, bem como tornar acessível aos consumidores a aquisição de produtos agroecológicos frescos, valorizando a biodiversidade, as qualidades sensoriais e gerando a sustentabilidade do sistema alimentar.

Em momentos de crise, como a que se vive em relação a pandemia da COVID-19, iniciativas como o Projeto das Cestas Agroecológicas em Condomínios, que partem da sociedade civil, tem valor fundamental na solução de problemas econômicos e sociais a nível local. A relação de proximidade entre produtores e consumidores cria um compromisso mútuo entre as partes, fortalecendo uma relação que extrapola o aspecto econômico e cria laços de responsabilidade e solidariedade.