No dia 28 de Abril de 2018, o Projeto Convivium, em parceria com a UNESP, acompanhou a colheita e o processamento do fruto do Juçara no Sertão do Ubatumirim, em Ubatuba – SP. A região fica próxima à BR-101 e é uma das comunidades vizinhas que mantém relações econômicas com o Quilombo do Campinho da Independência, em Paraty – RJ.

Juçara (Euterpe edulis, também conhecido como Içara) é uma palmeira muito conhecida por seu palmito. No entanto, a exploração do mesmo vem sendo desencorajada por não ser sustentável: a árvore demora anos para crescer e morre quando é cortada para a extração do palmito, diferente de algumas outras espécies.

Ameaçada de extinção, a solução encontrada para preservá-la foi a exploração dos frutos da Juçara, umas frutinhas roxas e pequenas, bastante semelhantes ao açaí. Sua polpa é extraída e a partir dela é possível desenvolver diversos produtos, como bolos, biscoitos, molhos, sorvetes… o céu é o limite! Mas seu uso mais popular ainda é em sucos e outras bebidas (deliciosos, por sinal).

Em Ubatumirim, a extração é feita por locais que habilmente sobem nas árvores com a ajuda de poucos equipamentos. Então acontece a debulha dos frutos no próprio local de colheita, que é feita à mão sobre uma lona ou tecido estendido no chão.

O processamento é feito na Unidade de Beneficiamento de Produtos Tradicionais do Sertão do Ubatumirim, que conta com um espaço equipado com tudo o que é necessário para o processamento dos produtos comercializados pela comunidade, inclusive uma câmara fria para armazenamento dos produtos.

Acompanhamos o Júnior na produção da polpa do Juçara. Primeiro, os frutos foram higienizados e depois colocados na despolpadeira (do mesmo modelo usado para açaí) junto com água. Por um lado sai a polpa já pronta para o uso ou para porcionar e congelar, e por outro lado saem os resíduos (sementes e cascas).

Em seguida, tivemos a oportunidade de aprender com a Denise, esposa do Júnior, uma deliciosa receita de pão de mel de Juçara. Além desta, ela nos contou de diversos outros preparos que são feitos a partir dos produtos tradicionais do local, como a geleia de Cambuci.

O fortalecimento da identidade alimentar de um povo é um processo fundamental na luta pela soberania e segurança alimentar, além de ser uma forma de manter sua cultura viva e singular em um mundo cada vez mais padronizado. A valorização do local é, ainda, uma forma de preservar o meio ambiente, pois o valor agregado ao produto natural daquela região incentiva a preservação da espécie e do meio para que se desenvolva.