Poder, aquisição, status e posse. Essas práticas se atrelam ao consumismo eminente impulsionado por estratégias de marketing incansavelmente em busca de lucro. No entanto, o consumo consciente é antagônico a tal modelo capitalista e tem como eixo principal o desenvolvimento de um consumo que aborde a sociedade, o ambiente e a economia de modo sustentável. Visto isso, empresas utilizam abordagens de propaganda para persuadir consumidores e os induzirem a comprar falsos produtos ecológicos.

Todavia, enquanto consumidor, é necessário questionar a cadeia de produção até o produto final para não ser ludibriado. Greenwashing é uma expressão que pode ser compreendida como “dar um banho de tinta verde”, representando a promoção de uma imagem ambientalmente correta de um produto que não corresponde com a realidade, de forma a apresentar um falso aspecto ecológico; enquanto socialwashing ou bluewashing se assimila ao greenwashing porém com ênfase no âmbito social e ocorre quando empresas que se classificam socialmente responsável mas não atuam de maneira correspondente (ANDREOLI E NOGUEIRA, 2013).

A indústria contemporânea reconhece os problemas sociais e ambientais causados pelo processo de produção convencional. Grande parte das empresas buscam adaptar suas marcas para atender ao consumidor consciente e, consequentemente, colaborar com a difusão de selos e frases, contribuindo para que os demais compradores busquem informação sobre. 

No ramo alimentício não é diferente, diversas marcas têm se adequado aos selos verdes, veganos, sustentáveis, retornáveis, selos de enfrentamento ao trabalho escravo, entre muitos outros. Destaca-se os alimentos orgânicos e naturais que se encontram em grande ascensão devido aos benefícios para a saúde dos consumidores e menores impactos ambientais. Entretanto, podem apresentar custos ambientais embutidos na confecção dos produtos, ausência de provas das características alegadas, alegações vagas a respeito das “virtudes ecológicas” de determinados produtos, tentativa de agregar valor com benefícios irrelevantes a produtos, declarações mentirosas e apresentação de produtos com “males menores” (MORAES E PRADO, 2020).

Ocorre, no entanto, a manifestação do greenwashing e socialwashing por meio do destaque para uma melhoria tecnológica em um determinado processo sem observar toda a cadeia, a exemplo de um recurso hídrico sustentável, mas grande degradação do solo, que é oculto pela empresa — dessa forma, ao omitir fatos negativos da produção, consumidores acreditam comprar alimentos ecologicamente corretos. Outra intervenção comum são as medidas economicamente mais baratas para resolver os problemas a curto prazo que, se adotadas ações adequadas, poderiam ter soluções mais duradouras (PAGOTTO, 2013).

Na pesquisa de Thiago dos Santos (2017), uma prática de socialwashing de uma empresa alimentícia transnacional é reportada: a Nestlé, que prometeu investir mais de 40 milhões de dólares em projetos voltados aos pequenos produtores da Costa do Marfim até 2020, confessou que sua cadeia de suprimentos na Tailândia dispunha de trabalho escravo, ao mesmo tempo em que era indiciada nos Estados Unidos por uso de trabalho infantil em fazendas de cacau na mesma Costa do Marfim onde pretende investir.

Como forma de combater essas práticas enganosas, o Brasil conta apenas com algumas organizações de defesa do consumidor não especializadas na propaganda ambiental. Exemplos destas são o Procon, o IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) e o Instituto Akatu, que atuam na proteção ao consumidor e na educação popular para um consumo consciente (PAGOTTO, 2013). Torna-se imprescindível a formação de consumidores ecológicos e militantes, conscientes, informados, que verifiquem os selos, origem e processos de produção de um produto para a escolha de itens sustentáveis e socialmente responsáveis, e não dos que englobem práticas de greenwashing e socialwashing. 

REFERÊNCIAS

ANDREOLI, Taís Pasquotto; NOGUEIRA, Ana Carolina Vieira. Falsos discursos mercadológicos. Revista Pensamento Contemporâneo em Administração, v. 15, n. 2, p. 69-87, 2021.

DOS SANTOS, Tiago Matos. Influência corporativa na agenda de governança agroalimentar das Nações Unidas: tendências e contradições. ABRI, 2017.

MORAES, Cristine; PRADO, Nágela. Perfil dos consumidores de alimentos orgânicos e naturais: greenwashing ou consumo consciente?. Caderno Técnico de Administração Contemporânea, v. 2, n. 2, 2020.

PAGOTTO, Erico Luciano. Greenwashing: os conflitos éticos da propaganda ambiental. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. p. 44-73, 2013.