Por Gabriela Vidori

Estamos chegando em mais uma temporada de inverno, a estação mais seca no norte do país. Nessa época do ano, o meio ambiente fica ainda mais ameaçado pelo aumento das queimadas no entorno da Amazônia e do Pantanal. Em meio as preocupações ambientais, celebramos no dia 5 de junho o dia mundial do meio ambiente. No entanto, não temos muito o que comemorar: em 2020, vivemos um desmatamento recorde, com cerca de 11 mil km² de floresta desmatada. Um dos argumentos para essa destruição desses dois importantes biomas é o aumento da área de cultivo para produção de alimentos. Mas essa expansão irá influenciar na quantidade de alimento que estará nas mesas dos brasileiros ou é apenas mais uma forma de ampliar o agronegócio?

Apesar de pensarmos que seja uma questão simples, a situação é complexa. Aumentar o desmatamento e abrir novas áreas de produção, não solucionará a insegurança alimentar dos  125 milhões de brasileiros que se encontram nessa situação. Ademais, o desmatamento e as queimadas também são prejudiciais à agricultura, provocando o aumento das temperaturas e interferindo no regime de chuvas. Determinadas culturas, por exemplo, não são capazes de resistir a altas temperaturas. Estações chuvosas fora de época ou grandes períodos de estiagem, são oscilações climáticas que têm efeito direto sobre a produção agrícola, estando elas próximas ou distantes das áreas desmatadas.

Vale destacar que dentre os principais fatores de promoção do desmatamento dos biomas está a pecuária. O crescente consumo de carne somado à falta de zelo do atual governo brasileiro pelas questões ambientais têm sido uma combinação perfeita para a destruição florestal no Brasil. Não só o desmatamento é consequência desse panorama, mas também a destruição dos meios de subsistência de comunidades indígenas, quilombolas e de pequenos produtores rurais, a perda da biodiversidade e o uso  desenfreado de pesticidas.

Nesse cenário devastador, voltamos à questão da relação entre o desmatamento e o aumento da insegurança alimentar das pessoas mais vulneráveis. Podemos entender melhor sobre essa questão se analisarmos, por exemplo, a destinação do cultivo de soja: hoje, 90% da soja é destinada à alimentação animal, afirma Barbara Unmüssig, presidente da Fundação Heinrich Böll. Portanto, mesmo que a produção alimentar aumente, esses produtos não necessariamente estão indo para as mesas dos brasileiros. Se não houver um esforço de mudança no que produzimos e como produzimos alimentos, continuaremos desmatando desenfreadamente e negligenciando as consequências dessa situação.

Mas isso é um problema para discutirmos em outros textos.

Referências: